sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Ensaio sobre a Morte e Sobrevivência de Max Scheller


Max Scheller, no seu ensaio sobre “ Morte e Sobrevivência “, defende que a nossa morte é um facto presente na consciência humana de modo imediato e intuitivo. A certeza da morte depende de alguma experiência exterior, damos conta da morte pela intuição, ou seja somos mortais pelo facto de algum dia termos observado a morte nos outros. Mesmo que o homem fosse o único vivente sobre o planeta, ele saberia de alguma forma e por algum procedimento que a morte o espera. Assim, deduzimos que a certeza da morte é nos dada pelas marcas que ao longo da vida a idade vai deixando. Logo, o nosso conhecimento da morte se tivesse um carácter experimental, poderíamos morrer, estar enterrados por um determinado tempo no cemitério e ao fim de um tempo brotar para o sol que nós viu nascer. Se assim fosse, poderíamos dizer que tudo isto passava de um ciclo de morrer para renascer. Mas, a filosofia da morte de Max Scheller, vai ao encontro de uma realidade bem diferente, mesmo que o homem não conhecesse outros seres vivos, não percebesse em si os sintomas do envelhecimento, os elementos constitutivos das nossas percepções puras, lhe dariam indicadores. A morte encontra-se contida na estrutura do processo orgânico do homem. A realidade com que nós de deparamos é que a morte segue em igualdade com a sobrevivência, porque por pura circunstância do acaso podemos ter um acidente e morrer, como também podemos ter um acidente e lutar para sobreviver aos ferimentos deixados. Em todo o caso, é mais fácil morrer do que sobreviver e há mais liberdade no morrer do que no viver. Vou dar um exemplo, se perguntar a uma criança se ela prefere morrer ou viver, ela responderá que quer viver para poder brincar, pois os mortos não brincam. A criança muito cedo descobre as angústias e as obsessões da vida, encontrando às vezes soluções mágicas para justificar a morte. Note-se que, para as crianças, a morte é uma tomada de consciência relâmpago e aparece na maior parte das vezes associada às pessoas mais velhas.
O processo de consciência interior em Scheller consiste em três dimensões: presente, passado e futuro, em todas temos três espécies de actos: percepção, recordação e expectação imediata. Em cada momento da vida, vivenciamos “ algo que se distancia “ e “ algo que se aproxima “. As nossas recordações imediatas, como a nossas a nossas expectações imediatas são-nos dadas enquanto eficazmente actuantes sobre a nossa vivência do presente. Scheller apresenta a formula (t= p. + pr. + f.) ou seja o conteúdo total da vivência possui três dimensões (passado, presente e futuro), tendo cada uma determinada extensão. A extensão total aumenta com o desenvolvimento do homem, no seu percurso, de vida e numa direcção determinada e assim a dimensão do passado aumenta na medida em que decresce a dimensão do futuro. Deste modo, à medida que vamos vivendo o instante presente, vai diminuindo as possibilidades e vamos vivendo na expectativa de morrer, porque um dia a nossa hora vai chegar e será nesse instante que a carrasca nós encurtará o futuro. Portanto, na experiência da própria vida se dá-se simultaneamente uma experiência da morte, pois, ela é o elemento de todos os momentos, de modo que a morte não nos chega por acaso, ela é uma certeza intuitiva, é um facto da nossa existência, não pensem que vão ficar cá para semente. A este modo de repressão, Scheller adverte que se nos fosse constantemente dada a evidência que a morte nos persegue presentemente, a vida séria, por assim dizer, paralisada.
Os homens têm que morrer na sua própria morte e a única maneira de contornar este facto e tentar sobreviver na intuição que hoje, ele vive “ dia” até que subitamente, não haja mais um dia.

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