quinta-feira, 25 de junho de 2009

Devir

A questão do devir ao longo da História da filosofia tem levantado muita discussão. Isso verifica-se já no pensamento grego, o qual levantou a questão do devir em estreita ligação com a questão do ser. Esse pensamento surgiu em grande parte pelo facto da mudança das coisas e com a necessidade de encontrar um princípio que pudesse explicá-lo. Por isso, a Filosofia tem-se empenhado, desde o início, em compreender o devir, cuja questão decisiva é a relação deste com o ser. Parménides e Heráclito, embora com ideias opostas, encaram o ser como algo de indecomponível, ao contrário da Escolástica inspirada por Platão e Aristóteles, que penetram na estrutura íntima do devir e a sua alusão vai até as causas últimas situadas acima dele. O devir é necessariamente o causado: foi esta a grande descoberta de Aristóteles, ponto de partida para o desenvolvimento de sua teoria das quatro causas. Em Parménides, o todo é finito, equidistante do centro, o mundo é uno. Enquanto que em Heráclito a realidade é una e múltipla. “De todas as coisas brota uma e de uma brotam todas.” Note-se, que o devir heraclitiano, embora seja puro fluir estando submetido a uma lei, lei da medida, que regula o incessante iluminar-se e extinguir-se nos mundos. Visto que os eleatas se aperceberam de toda esta mudança instalaram do outro lado do campo de visão do heraclitismo e, destacando a imagem estática do mundo que postula a nossa razão, afirmam: “as coisas são o ser, até o ponto que é impossível o devir”. Heráclito com visão mais profunda vai fixar-se na mudança das coisas e diz: que a essência das coisas é o devir. Coloca-se, então, um novo problema, que ressaltado na posição contraditória dos eleatas, vai orientar toda a filosofia grega até Aristóteles. Este filósofo criticou as concepções sobre o devir propostas pelos filósofos anteriores. Afirmando, que há tantos tipos de devir quantos significados o vocábulo tem. O devir é por acidente, relativo a outra coisa, em si mesmo. Os escolásticos com influência na tendência aristotélicas procuraram aperfeiçoar e esclarecer os anteriores conceitos, mas tornando a questão numa perspectiva tradicional, excessivamente estática, tal como os gregos. Em contrapartida as correntes da filosofia moderna, consideraram o devir como o motor de todo o movimento e como única explicação para qualquer mudança. A modernidade acusa um devir para um ser – aberto – ao - futuro, tornando-se no desejo de um ser em plena interrogação. Traduzindo-se de forma mais literal a eterna mudança do ontem ser diferente do hoje, inspirado nas palavras de Heraclito: "O mesmo homem não pode atravessar o mesmo rio, porque o homem de ontem não é o mesmo homem, nem o rio de ontem é o mesmo do hoje". E assim continua o debate filosófico contemporâneo, tal como disse admiravelmente Malebranche: “Não, não vos conduzirei numa terra estrangeira; mas ensinar-vos-ei talvez a saber que sois estrangeiros no vosso próprio país.”

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