domingo, 24 de fevereiro de 2008




Há textos que ao longo da nossa vida nos perseguem, porque nos vemos neles, ou porque nos emocionam, ou por razões que desconhecemos. Alguns muito conhecidos, outros nem por isso, para mim são únicos quando os encontramos, parecem ter sido escritos para nós, mesmo que quiséssemos, não conseguimos livrar-nos deles. Este é um deles:
Alberto Caeiro
Da Minha Aldeia


Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...


Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer


Porque eu sou do tamanho do que vejo


E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena


Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.


Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,


Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe


de todo o céu,


Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos


nos podem dar,


E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.


Alberto Caeiro, ao escrever o Guardador de Rebanhos estaria verdadeiramente a escrever a história da sua vida? Mais do que poemas, Caeiro escrevia testemunhos para o futuro.

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